Monday, June 11, 2007

CABRAL E O BRASIL



(...)A ascese tão buscada de Joao Cabral, que culmina na “máquina do poema”, é fruto de uma série de "parti pris", estéticos, éticos e políticos. Estéticos, porque toma de antemão o partido de uma poesia antilírica, contra uma tradição, segundo Cabral, demasiado sentimental. Éticos, quando assume o comprometimento da poesia menos com questões pessoais e mais com a realidade social, não se furtando a valer-se de seu caráter didático, para escrever sobre problemas brasileiros, como a miséria ou a mortalidade infantil. Políticos, enfim, porque se converte num projeto coerente e um exemplo de obstinação do correto e do duradouro (“lição de pedra”), num um país onde as obras públicas - como as rodovias - são feitas para durar um ou dois mandatos, onde “tudo parece que é construção e já é ruína”, como canta Caetano Veloso, onde a política virou sinônimo de corrupção e da utilização da coisa pública como patrimônio familiar.

(...)

Adalberto Mueller. Poesia e Midia. In progress.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home