LEIPZIG
Como o efeito estrondoso do som dos tubos do órgão da Thomas Kirsche tocando uma tocata de Bach, Leipzig bate na veia. Não pela imponência dos altos edifícios, ou pela curiosa mistura de estilos, que até perturba o visitante mais austero. Mas pelos recantos generosos das igrejas protestantes, pelas curvas graciosas das passagens, pelos pátios onde o sol vem se esquecer dos trópicos, pelo plangido em tantos calibres dos sinos. Em Leipzig pode-se estar passando, de passagem em passagem. Uma cidade cheia de fugas, de estilo fugado e barroco. Claro, o ouro do barroco está em Dresden (dizem), mas Leipzig é a própria pérola barroca. Bela por imperfeita. A beleza não está no detalhe imperfeito no seio da perfeição? Bach devia sabê-lo: apesar de buscar com tanto afinco a geometria dos sons, devia saber que no doce tempero do cravo entra sempre um travo de amargura, como no amor.
Adalberto Müller
2 Comments:
Bela descrição, Adalberto. Fiquei curioso para conhecer Leipzig. Abraço, Paulo.
Adalberto, belo texto e exata apreciação da Thomaskirche. a igreja protestante não é o barroco da ostentação, dá espaço à imponência da música. De fato a cidade de Leipzig é barroca pelas passagens, mais que Dresden, é também por isso que prefiro Leipzig...
Post a Comment
<< Home