Monday, May 28, 2007

COLDPLAY e o TEMPO


UM TRECHO DO QUE ESTOU ESCREVENDO SOBRE POESIA E MIDIA:
veja o clipe:
http://www.youtube.com/watch?v=V3Kd7IGPyeg

(...)

Tarkovski afirmava que o cinema se distinguia das demais artes – e das demais formas de expressão humana – por ser capaz de tornar sensível o fluir do tempo . O tempo no cinema, segundo Tarkovski, não é apenas um tema, um assunto, um objeto. O tempo é ele mesmo o lugar onde o cinema acontece, e o cinema é o próprio tempo tornando-se visível e audível. Mas que tempo? O tempo da criação, que é o tempo humanizado, o tempo “esculpido”.
Os videocliples do Coldplay tornam possível que as reflexões de Tarkovski, sobre o cinema poético, e sua própria prática de diretor, atinja o domínio da comunicação massiva.
The scientist, por exemplo. Trata-se de um clipe bastante incomum, porque desenvolve uma narrativa linear (não uma série de fragmentos desconexos, como sói acontecer com os videoclipes), só que de forma invertida (como na seqüência invertida de O homem da câmera, de Dziga Vertov). Quando o clip começa, Chris Martin está deitado num colchão, olhando para cima e cantando (numa bela plangée em 90 graus, a grua parte do rosto de Martin até mostrar o cochão inteiro sobre o piso de cerâmica). Subitamente, vemos que ele se levanta, ou melhor, é “levantado” do colchão (pela inversão da imagem, pois na verdade ele havia deitado), e então vemo-lo ir passando, sempre com movimentos invertidos, por vários locais (uma rua, uma quadra de basquete, um campo de árvores) até chegar a um carro no meio de uma campo. Em seguida, vemos uma mulher caída no chão, e com o recuo da imagem sabemos que ela fora projetada do carro conduzido por Martin, depois que eles desviaram de um caminhão que vinha na contramão. A anedota, como a letra, é bastante simples. Mas a construção narrativa é impressionante. Para começar, a relacão curiosa entre a imagem invertida e o som não-invertido, que só chama a atenão quando nos detemos na construção da narrativa. O problema que se coloca, na construção da imagem audiovisual invertida, é que, se dissociarmos som e imagem, e acoplarmos um som não invertido, não haverá sincronização, pois o movimento dos lábios não estará sincronizado com o som. Por isso, o diretor Jamie Thraves começa o clipe com primeiro plano, em plongée de 90 graus, de Martin, para acentuar um problema de sincronia. Note-se também que posição de seu braço forma um ângulo de 90 graus, que cria uma certa textura geométrica com o colchão azul e o formato do piso:
Para que o som estivesse sincronizado com os movimentos labiais de Martin, ele teve que cantar a música de forma invertida (uma tarefa que lhe consumiu semanas, apenas para decorar)
(...)

Adalberto Mueller
Poesia e Midia (em preparacao)

1 Comments:

At 2:04 PM, Anonymous Anonymous said...

Quando era adolescente, gostava de um clipe do Steve Vai (a música chama-se "In My Dreams with You") que é assim, todo invertido. Se, por um lado, não há uma narrativa no clipe, é interessante pois trata-se da banda tocando num fundo branco, ou seja, fora do espaço, ou num espaço infinito. O tempo invertido, sincronizado com o tempo normal (em que decorre a música) é mostrado por meio de gestos simples, como água que emana do corpo ao invés de cair nele e etc. Os músicos todos precisaram aprender a tocar a música invertida.
Ainda não vi esse do Coldplay, na verdade nunca mais vi clipes, pois a MTV parou de mostrá-los, mas verei no YouTube.

 

Post a Comment

<< Home