Saturday, June 11, 2005

A DESPEDIDA DOS PRIMOS QUE SE AMAM

(…)
PRIMO

Hei de voltar, prima minha,
para levar-te ao meu lado
em barco todo dourado
com as velas da alegria;
luz e sombra, noite e dia,
só pensarei em ver-te;

ROSITA
Mas o veneno que verte
o amor, na alma triste
tecerá com terra e ondas
o vestido da minha morte.

PRIMO
Quando meu cavalo lento
coma ramos com aurora,
quando a névoa do rio
sujar os muros do vento,
quando o verão violento
deixar a terra carmim,
e o orvalho deite em mim
alfinetes da estrela d’alva,
te direi, porque te amo,
que por ti posso morrer.

ROSITA
Espero logo te ver
chegando à tarde em Granada
com toda a luz salgada
por saudades do mar;
limoeiros amarelos,
jasmineiros a sangrar,
pelas pedras, enredados,
impedirão teu caminho,
e nardos em remoinho
enlouquecerão meu telhado.
Voltarás?

PRIMO
Sim! Voltarei!

ROSITA
Que pomba iluminada
Anunciará tua chegada?

PRIMO
O pombo da minha lei.

ROSITA
Olha que bordarei
fronhas para nós dois.

PRIMO
Pelos diamantes de Deus
e o cruz em que foi pregado,
juro que estarei ao teu lado.

ROSITA
Adeus, primo!

PRIMO
Prima, adeus!

(…)
FEDERICO GARCIA LORCA
Dona Rosita a solteira, ou A linguagem das flores.
Trad. Adalberto Müller

1 Comments:

At 1:05 PM, Anonymous Myriam Rubis said...

Belle traduction. Se frotter à Lorca... Quelle audace !

 

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