A DESPEDIDA DOS PRIMOS QUE SE AMAM
(…)
PRIMO
Hei de voltar, prima minha,
para levar-te ao meu lado
em barco todo dourado
com as velas da alegria;
luz e sombra, noite e dia,
só pensarei em ver-te;
ROSITA
Mas o veneno que verte
o amor, na alma triste
tecerá com terra e ondas
o vestido da minha morte.
PRIMO
Quando meu cavalo lento
coma ramos com aurora,
quando a névoa do rio
sujar os muros do vento,
quando o verão violento
deixar a terra carmim,
e o orvalho deite em mim
alfinetes da estrela d’alva,
te direi, porque te amo,
que por ti posso morrer.
ROSITA
Espero logo te ver
chegando à tarde em Granada
com toda a luz salgada
por saudades do mar;
limoeiros amarelos,
jasmineiros a sangrar,
pelas pedras, enredados,
impedirão teu caminho,
e nardos em remoinho
enlouquecerão meu telhado.
Voltarás?
PRIMO
Sim! Voltarei!
ROSITA
Que pomba iluminada
Anunciará tua chegada?
PRIMO
O pombo da minha lei.
ROSITA
Olha que bordarei
fronhas para nós dois.
PRIMO
Pelos diamantes de Deus
e o cruz em que foi pregado,
juro que estarei ao teu lado.
ROSITA
Adeus, primo!
PRIMO
Prima, adeus!
(…)
FEDERICO GARCIA LORCA
Dona Rosita a solteira, ou A linguagem das flores.
Trad. Adalberto Müller
cordel digital
adalberto müller
1 Comments:
Belle traduction. Se frotter à Lorca... Quelle audace !
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