Saturday, January 26, 2008





Mário Alex Rosa (São João del Rei-MG, 14/01/1966). Formado em História, mestre e doutorando em Literatura Brasileira na USP. É professor de Literatura Brasileira no Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Tem poemas publicados nas revistas Dimensão, Inimigo Rumor, Cacto, Teresa e no Suplemento Literário de Minas Gerais. Participa da antologia O achamento de Portugal (Org. Wilmar Silva. Belo Horizonte: Anomelivros/Fundação Camões, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.

Wednesday, January 16, 2008

MIZOGUCHI, O MESTRE



Depois de mais uma sessão (com comentários de José Jorge de Carvalho) de O intendente Sansho, de Kenji Mizoguchi, me pergunto se o cinema ainda é capaz, hoje, de concentrar tantas emoções, tantas idéias, tanto conhecimento, em um filme. Por exemplo, na panorâmica final, depois que Zushio relata à mãe o desastre da família (a morte do pai na prisão, o suicídio da irmã). Essa panorâmica, que sai de um plano médio do filho e da mãe abraçados, e vai em direção à praia, onde um pescador trabalha, contém uma força filosófica que só encontraria paralelo no Capital ou na Fenomenologia do Espírito. Não é apenas uma panorâmica, um giro da câmera sobre seu eixo, mas um gesto capaz de sair da história individual para a História, e quiçá, para algo que está além da História, que é a vida. Não por acaso, creio, Mizoguchi parece terminar o movimento da câmera exatamente entre a ilha e o continente, deixando entre os dois um espaço de mar e céu -- onde irá surgir a palavra FIM. Parafraseando Godard (ou Rosselini?), uma panorâmica é também um gesto ético e político. Não se filma inocentemente. Isso eu aprendo com Mizoguchi, a cada sessão.


Monday, January 14, 2008

ANTIDEPRESSIVO

Itapema, 2007 (A. Müler)

O livro Tarde, de Paulo Henriques Britto, é um primor. Paulo Henriques prova que a poesia é não só possível hoje, mas necessária. E não apenas para os poetas. O poema abaixo (inspirado num célebre poema de João Cabral sobre a aspirina), é um exemplo do estilo cortante e revelador de Paulo Henriques Britto.

PARA UM MONUMENTO AO ANTIDEPRESSIVO




Um pequeno sol de bolso
que não propriamente ilumina
mas durante seu percurso
dissipa a neblina



que impede o outro sol, importátil,
de revelar sem distorção
dura, doída, suportável,
a humana condição.



(Paulo Henriques Britto, Tarde, Cia das Letras, 2007)

Sunday, January 13, 2008

SOBRE O QUE NÃO FALAR

UM CANTO DE

Silêncios-
a noite desliza lenta
escondendo estrelas –
uma guitarra
sem cordas corta
o ar com seu gume
de espelhos quebrados.

No ventre obeso
do mar sem lume,
ensaio um canto –
não o podes escutar,
submersa no sono
da distância, que tece intrincados
desvelos.

Esse canto te procura, tat-
eante como um cego –
um canto át-
ono,
quase um sussurro (cheio
de silêncios.)

Adalberto Müller. Enquanto velo teu sono. 7Letras, 2003.

Wednesday, January 02, 2008


Wenceslau e árvore do gramofone: a construçao do sonho.