Wednesday, January 16, 2008

MIZOGUCHI, O MESTRE



Depois de mais uma sessão (com comentários de José Jorge de Carvalho) de O intendente Sansho, de Kenji Mizoguchi, me pergunto se o cinema ainda é capaz, hoje, de concentrar tantas emoções, tantas idéias, tanto conhecimento, em um filme. Por exemplo, na panorâmica final, depois que Zushio relata à mãe o desastre da família (a morte do pai na prisão, o suicídio da irmã). Essa panorâmica, que sai de um plano médio do filho e da mãe abraçados, e vai em direção à praia, onde um pescador trabalha, contém uma força filosófica que só encontraria paralelo no Capital ou na Fenomenologia do Espírito. Não é apenas uma panorâmica, um giro da câmera sobre seu eixo, mas um gesto capaz de sair da história individual para a História, e quiçá, para algo que está além da História, que é a vida. Não por acaso, creio, Mizoguchi parece terminar o movimento da câmera exatamente entre a ilha e o continente, deixando entre os dois um espaço de mar e céu -- onde irá surgir a palavra FIM. Parafraseando Godard (ou Rosselini?), uma panorâmica é também um gesto ético e político. Não se filma inocentemente. Isso eu aprendo com Mizoguchi, a cada sessão.


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