Tuesday, June 07, 2011

BAUDELAIRE - PAISAGEM

Fui traduzir Paysage para meu livro de teoria da mídia, e deu nisso:

(como é bom traduzir poesia)


PAISAGEM (de Les Fleurs du Mal)

Desejo, para compor castamente minhas églogas,

Deitar-me bem perto do céu, como os astrólogos.

Devaneando escutar, dos sinos, o lamento;

Seus hinos solenes levados pelo vento.

Com o queixo nas mãos, verei da gelosia,

Da fábrica que canta, a algaravia ;

Chaminés e campanários, mastros da cidade,

E o céu aberto, recordando a eternidade.

É doce ver nascer, na luz que se esfarela,

A estrela solitária: a luz numa janela ;

Os rios de carbono rumando ao firmamento,

E a lua derramando o claro encantamento.

Verei a primavera, o verão e o estio ;

E quando a neve branca estiver por um fio,

Deixarei persianas e portas bem fechadas

Para erigir na noite castelos de fadas.

Então reverei horizontes cheios de astros,

Jardins e repuxos chorando em alabastros,

Beijinhos e passarinhos de encantos mil,

E tudo o que o idílio tem de mais infantil.

A Revolta, em vão chegando até a soleira,

Não me fará levantar da minha cadeira ;

Pois estarei absorto no divertimento,

De lembrar da Primavera com o pensamento,

De tirar um sol do coração, e da mera

Tarefa de fazer da Idéia uma atmosfera.


(Trad. Adalberto Müller)


1 Comments:

At 8:54 AM, Blogger Ivan said...

Beleza de tradução -- esse deve ser um dos momentos mais singelamente líricos do nosso agônico Charles "albatroz" Baudelaire...

 

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