Saturday, June 16, 2007

LAURA ERBER

Laura Erber é uma das poetas que estariam na Antologia de Poesia Brasileira que eu preparei para a revista Cerrados, e que acabou não saindo por razões (bastante) alheias à minha vontade. Agora, é com prazer que publico aqui um poema dessa leitora de Michaux, artista e poeta, viajante, e especialista em poetas que foram estudar a vida subaquática do Sena e não voltaram.


Ela acorda cedo e se sente aberta ao estupro. Não é assim que faz o tatu, o coelho, os roedores em geral, os soldados em tempo de guerra? Ela muda depressa e agora é um alexandrino acentuado em u. Ela pensa em mudar o emprego, em mudar o emprego da língua, ela pensa em cantar o Hino Nacional. Ela viu na televisão um condor que não sente as próprias asas. Ela viu como fazem os répteis e os sacis. A natureza é linda e variada. Ela sonha em se casar com várias espécies de homens. Ela sonha com bichos que dançam e fazem um ruído próprio para o acasalamento. Ela gosta de olhar a pista de patinação no gelo. A terra é redonda, nada é muito longe. Ela não pensa em viajar. Ela está exausta e só pensa em ser feliz. Ela não está nem aí. Ela quer saber sobre as estrelas, sobre coisas mortas que brilham há zil anos. Ela quer saber como Lázaro adoeceu de repente. Ela quer mais açúcar, mais beleza. Ela quer sair daqui. Ela vai até o banheiro. Ela volta. Ela mente um pouco. Ela muda de roupa. O dia termina. Ela abre o leite, parece azedo. Ela engole.



laura erber 2007





A. Mueller

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