Arles - A. Mueller
Poema que escrevi na Provenca, ano passado, pensando em "Zone", de Apollinaire, que depois de "Waste land" eh O poema do seculo XX.
ESSA ZONA
janelas azuis de Provença
vistas do trem-bala
montes de Cézanne
em cartões postais
nuvens pintadas sobre o azul
branco algodão
alfazema no ar
odores, sabores, poderes
touros em Arles
nas gravuras de Carnicero
e o pranto por Ignácio Sanches Mejías
Picasso le toril
baunilha e sangue nas ruas
minotauros sonham labirintos
ariadnes argelinas se perdem na noite
de Marselha
brancos teseus sem tesão tomam thé
nos cafés de um sábado qualquer
e a voz que anuncia o trem
é digital e limpa
saduíches, quiches
chocolate negro cacau a cor
da menina de Jazz de Bouffan
voyez il y a l’embonpoeint justee devaant, Monsieur,
et après c’est l’ avenue Pablo Picasso
e o vento mediterraneo
limpando o ar varrendo
as folhas de plátano
os últimos dias do verão
partem na voz triste dos corvos
nada se transforma, tudo se perde
é tarde como sempre
e para quê poetas
a pura imagem da flor
quintessência em hieratic french
tudo se mistura a tristeza
a tristeza a tristeza é senhora
dona que me doma
desde que o samba é samba
é assim João
a tristeza tristerezina de Torquato
amarela
agora sob sol novo nada
e ouro sobre azul
sol-destroço-
corte
Adalberto Müller, out. 2006