Wednesday, September 10, 2008

RESENHA SOBRE O TIGRE DE VELUDO

Início Críticas O tigre de veludo
Jul 13 2008
O tigre de veludo
Escrito por Paula Cajaty
http://paulacajaty.com/


O tigre de veludo não é só um livro de poesias de 'e. e. cummings' ou um ajuntamento aleatório de seus poemas, numa coletânea sobre poetas notáveis do mundo, mas uma iniciação à obra e uma apresentação do poeta que soube representar, através da palavra, os conceitos e ideais de seu tempo.
Para isso, nada melhor que as visões dos três tradutores e selecionadores, Adalberto Müller, Mario Domingues e Mauricio Cardozo, com introdução de Adalberto, Mario e Marcelo Sandmann, que não somente dissecaram a contribuição poética de Edward Estlin Cummings (eu sempre quis saber o que significavam as letrinhas e) como apontaram em que medida e em que posições o trabalho poético-literário do autor se encaixava diante do cenário histórico brasileiro.
A direção de Henryk Siewierski e a publicação pela UNB são muito felizes ao trazer a introdução dos poetas brasileiros, bem como o original de Cummings e as respectivas traduções, casadas lado a lado, para análise conjunta, especificando o trabalho de cada poeta-tradutor e dando, finalmente, voz à sua arte e à composição artística da figura do tradutor de poesia, a quem não cabe apenas transformar vocábulos mas, muito mais do que isso, transpor espíritos e ritmos através do abismo da linguagem.
O trabalho poético de Cummings frente às inovações de sua época, adotando os recursos tecnológicos que se lhe dispunham para os experimentos com letras, palavras, pontuações e estrofes, inclui a observação minuciosa das inter-relações que a poesia desenvolve com o mundo novo que a cerca. Cummings absorve e incorpora as novidades ao fazer poético. É a partir dessas constatações, portanto, que vislumbramos as motivações do movimento concretista (obviamente ultrapassado pelo decurso do tempo e pelo advento de novas e não menos revolucionárias tecnologias), movimento que se mostra curioso e desbravador das novas composições visuais do início do século XX.
À luz da obra dos concretistas, intimamente vinculada às revoluções visuais e cinematográficas que ocorreram no século passado, é que os jovens poetas terão de fazer sua opção, seja pela absorção do novo mundo que os cerca, tal como propagadores dos novos ventos, seja pela reverência às vozes do passado, com o retorno e resgate do classicismo empoeirado e deixado nas estantes da biblioteca. É de se lembrar, no entanto, que apenas com a consciência das opções, é que elas realmente podem ser dotadas de algum valor e vigor, sob pena de mostrarem-se caminhos vagos e erráticos de artistas no obscurantismo das idéias.

- Cummings, E. E. O tigre de veludo (alguns poemas). Seleção e tradução de Adalberto Müller, Mario Domingues e Mauricio Cardozo; introdução de Adalberto Müller, Mario Domingues e Marcelo Sandmann. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007.

Friday, September 05, 2008

CELAN HOELDERLIN


uma nova versão de uma tradução do poema "Tübingen, Jaenner", de Paul Celan, que apareceu na revista OROBORO 5:


TÜBINGEN, JANEIRO

Olhos per-
suadidos à cegueira.
A sua – "um
enigma é o puro
brotar"[1] – a sua
recordação de flutu-
antes torres de Hölderlin, gai-
voltas ao redor.

Visitas de carpinteiros afogados
Com estas
palavras submergindo:


Se viesse,
viesse um homem,
viesse um homem ao mundo, com
a barbaluz dos
Patriarcas: só diria,
se falasse deste
tempo, só
balbucio, balbucio,
tal tal.

("Pallaksch. Pallaksch.")



[1] Versos de Hölderlin.

É preciso lembrar que o dono da casa em que Hoelderlin alugava um quarto - numa torre (ver foto) era carpinteiro. Pallaksch era uma palavra empregada freqüentemente por Hoelderlin na fase da loucura, de significado incerto (ora significava "sim", ora "não").
Tradução: Adalberto Müller