Tuesday, April 10, 2007

Parabase

PARÁBASE


sacerdote sem templo
pregando para as nuvens
num francês hierático

decifra o vazio
recifra o desperdício
das palavras
buquê de flores abolidas

osíris sem ísis
refaz-se
dos destroços de si
(de si, espelho
partido em pedaços)

novelo enrolado
para dentro aranha
funâmbula funesta
hamlet príncipe do acaso
jogando os dados
do pensamento

nu expõe-se
nas livrarias
travestido de si
autopsicografa-se
até mesmo
ao espremer espinhas



Adalberto Mueller

Saturday, April 07, 2007

Manoel de Barros - der Indio

Gracas ao Joao Aroldo (Curitiba) e ao Winfried Bettmer (Münster), eis um trechinho do roteiro do nosso (meu e Ricardo Carvalho) roteiro sob a poesia de Manoel de Barros:

SZENE 16 – AUßEN/TAG – AUF DEM LANDWEG

Vater Ezequiel (Onkel) und Wenceslau unterhalten sich und gehen.

WENCESLAU

Ich wußte gar nicht, daß sie sich so über diese Sätzen ärgern würde, Onkel. Ich sehe keine Unanständigkeit. Ich mag ihre Fehler.

EZEQUIEL
Wenceslau, das ist keine Krankheit, da ist sehr gesund, mein Sohn...Es ist wohl wahrscheinlich, daß Du für den Rest des Lebens eine Lust am Nichts trägst... Bist Du nicht vom stamme der Indios?

WENCESLAU
Ja.

EZEQUIEL
Sieh, der Indio geht nur auf Umwegen,
er geht nicht auf den Wegen – denn dort findet man die besten Überraschungen
und reife Fruchte.
Man muß nur seine Sprache verfehlen wissen...

Essa Zona

Arles - A. Mueller

Poema que escrevi na Provenca, ano passado, pensando em "Zone", de Apollinaire, que depois de "Waste land" eh O poema do seculo XX.


ESSA ZONA


janelas azuis de Provença
vistas do trem-bala
montes de Cézanne
em cartões postais
nuvens pintadas sobre o azul
branco algodão
alfazema no ar
odores, sabores, poderes
touros em Arles
nas gravuras de Carnicero
e o pranto por Ignácio Sanches Mejías
Picasso le toril
baunilha e sangue nas ruas
minotauros sonham labirintos
ariadnes argelinas se perdem na noite
de Marselha
brancos teseus sem tesão tomam thé
nos cafés de um sábado qualquer
e a voz que anuncia o trem
é digital e limpa
saduíches, quiches
chocolate negro cacau a cor
da menina de Jazz de Bouffan
voyez il y a l’embonpoeint justee devaant, Monsieur,
et après c’est l’ avenue Pablo Picasso
e o vento mediterraneo
limpando o ar varrendo
as folhas de plátano
os últimos dias do verão
partem na voz triste dos corvos
nada se transforma, tudo se perde
é tarde como sempre
e para quê poetas
a pura imagem da flor
quintessência em hieratic french
tudo se mistura a tristeza
a tristeza a tristeza é senhora
dona que me doma
desde que o samba é samba
é assim João
a tristeza tristerezina de Torquato
amarela
agora sob sol novo nada
e ouro sobre azul
sol-destroço-
corte


Adalberto Müller, out. 2006